E então morri... Morri de desgosto, acho eu. Deitei-me a pensar em morrer e acordei morto. Mas não há desgosto maior do que não viver. Estava farto da minha vida, é certo, mas a não-vida é pior.
Tenho saudades do meu corpo. Sim, aquele que tanto desprezava. Foi horrível olhar para o meu cadáver. Um horror que não choca, o pior de todos. Naquele momento - quando olhava para o meu ex corpo inanimado - arrependi-me. Não é tão mau assim estar morto mas, também não é a solução que parecia. Pensava que a vida era um fardo sem significado. Não estava enganado, mas a morte ainda é pior.
É muito mau não sentir. Tenho saudades de ter frio, de suar e de ressacar um cigarro. Não consigo lidar com os reflexos condicionados que ganhei em 28 anos de vida. Ás vezes desvio-me dos carros na estrada, como se podesse ser atropelado. Hmm... quem me dera ser atropelado...
Quando passa uma mulher por mim tento sempre cheirá-la. Em vão, claro. Se soubesse o que sei hoje, teria cheirado muito mais mulheres - embora só uma me interessasse: a minha ex-mulher. A razão pela qual quis morrer. Agora que vi a reacção dela à minha morte, sei que ela ainda iria voltar para mim. Enfim... nada a fazer. A não ser estar ao lado dela a toda a hora. Não soa muito bem mas acreditem que nada me faz mais feliz... e também frustrado. De qualquer modo é o dia-a-dia que escolhi: acompanhá-la sempre e fazer figas para que não se apaixone por outro cromo qualquer. Nunca mais morre, foda-se! E com o feitiozinho que ela tem, ainda vou ter muito que esperar. Ai, ai... a minha linda ex... Dava tudo para a poder cheirar. Só que eu não tenho nada para dar...
*Este texto foi escrito por mim em Janeiro de 2005. Já o tinha posto on-line (usava entao o nick: freskos) num blog que morreu à nascença: www.mindstrip.blogspot.com
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