domingo, abril 22, 2012

a culpa, a fuga e os estados de espírito despoletados pelo estado do tempo

estava um frio do caralho lá fora. 
arrependi-me de sair de casa mal pus o nariz fora da porta mas urrava a urgência - dizia-se muita.
não sabia para onde ia, não conseguia parar e avançava contra a neblina.
o frio. os meus joelhos rangiam num queixume que me soava mais velho do que o meu próprio corpo.
entrei na taberna, estava a dar a bola. os velhos não seguiam o jogo, deixavam-se afundar dentro dos seus agasalhos. numa mesa a um canto, dois mortos em fato-de-treino jogavam ao uno. 
ao fundo, a luz da cozinha zumbia em sol.

foi pior acordar do que o pesadelo. 
descobri como dor o choque de acordar de pé quando me julgava deitado.
não podia mexer-me. os meus pés, dormentes, estavam atolados em dois vasos de areia.
rodeado de cabras, abri por instinto os braços e comecei a rezar.

Sem comentários: