quinta-feira, outubro 15, 2009

No escurinho do cinema

Uma coisa que muito me irrita é a arrogância com que algumas pessoas falam sobre o suicídio. Não percebo porque tanta gente vê o suicídio de terceiros como um acto grotesco. Peço-vos que embarquem no seguinte exercício: pensem numa pessoa para quem a vida é como uma sessão de cinema de um filme realmente mau. Alguém entra numa sala com um bilhete que é válido para a sessão inteira. Começa por ver trailers de vários filmes, uns que prometem ser bons e outros que aparentam ser tão maus que um confortável aperto no coração o faz sentir bem por não estar nessa sessão. À medida que o tempo passa, vai notando no comportamento de algumas pessoas que o rodeiam e deseja que estas não fossem tão idiotas. Entretanto o filme começa e não parece ser nada mau mas enquanto este vai avançando, nada. Os diálogos não parecem ser naturais, quase nenhum personagem têm atitudes próprias e a narrativa não avança. O tom do filme é grave e sente que a temática nada tem a ver consigo. Não lhe é permitido, por bom senso, falar além de talvez um ou outro pormenor sobre o filme que todos estão a ver e começa a sentir-se cada vez mais sozinho naquela sala cheia. À sua frente, uma enorme projecção de acções e simbolos desfila - algo no qual já nem pensa e dificilmente tolera. Enquanto, com a mão dentro do bolso, vai esmagando o pequeno bilhete de papel, a questão que coloca a si próprio é se deve abandonar tão medíocre sessão ou se deve aguentar até ao fim para não incomodar as pessoas que estão na sala consigo completamente absortas no ecrã.

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