terça-feira, março 30, 2010

Um artista sem musa é um artista sem tusa

Vamos ser sinceros. Eu sei que não está a ler isto. Sei que não há propriamente pessoas que vêm cá para ler coisas como em blogues a sério, seja lá o que isso for. Aqui vêm os meus amigos cuja paciência forniquei. "Vai à merda do blogue". Ou então, "Vai à merda do blogue que eu vou ao teu."

Costumo escrever para mim, depois publico aqui para estar à mão, ao pé, e não na cabeça ou numa gaveta que cheira mal porque há dois anos que lá se derreteu uma pilha AAA e eu não gosto de tirar aquela merda de lá porque faz-se-me uma comichão esquisita na mão e dá-me vontade de a levar à boca. E isso põe-me a desconfiar de mim próprio. Porque raio desejo levar à boca algo em que não consigo sequer tocar? Não gosto. Cheira-me a rabetice. Não costumo ser homofóbico excepto quando suspeito que sou meio larilas.

Nem sempre ponho aqui o que escrevo, às vezes deixo perdido algures num canto recôndito da hierarquia de lixo do meu disco duro. Umas vezes junto a uma recordação calorosa, outras ao lado de um pedaço de informação inútil. Nunca guardei um texto ao lado de um ficheiro pornográfico mas hei-de experimentar coabitar as minhas palavras com uma puta, a ver como envelhecem.

Antes escrevia para alguém. Até fazia dedicatórias, e há o mito de que houvera quem chorasse só de as ler. Francamente. O que a si tão mal lhe fica, tão bem a mim me sabe. Vezes houve em que escrevi para mulheres, e por sua causa. Por não conseguir chorar tive que escrever as minhas próprias lágrimas. E outras vezes de tanto elas me escorrerem ficava-se o papel num borrão. Verdades, que se aqui publicado já não dá mais para ver, na minha memória ainda lá está o borrão de uma lágrima a apagar um nome. De uma gaja. Ai, tão boa. Primeiro foi a lágrima a inundar-lhe o nome, adiante foi uma enchurrada de água que me fodeu o quarto todo, depois de eu lhe ter feito o mesmo a ela, no mesmo sonho. Que belo sonho. Depois fui eu a inundá-la de insultos. Depois de ter acordado. Não do sonho. Do feitiço, de ter de acordar todos os dias a pensar nela, porque nela me deitava. Figurativamente, claro. Ela não deixava, a vaca! Tão boa...

Faz falta. Desejar alguém que não nos merece, que não nos faria feliz mesmo que tentasse, chorar porque ela não tenta. Declamar poesia à Lua, tratando-a pelo nome dela, esperançados que naquele momento está ao luar, sorrindo, pensando também ela em nós. Enquanto ela está a foder com um gajo qualquer que não posso ver nem pintado de rosa-alface. O pulha! A puta! Que se o fizesse comigo era sem culpas, sem angústias nem maldade. Só sacanagem.

Faz falta. Se a malta não sonha, não avança, não nada. Se não há desejo, não há textos lamechas para os amigos lerem. Para se rirem, gozarem connosco por sermos tão básicos, como eles. Depois escreve-se sobre músicas ou sobre um filme que se viu, e tenta-se explicar ao mundo todo como é fantástica a obra daquele autor, por mais argumentos que todos os outros usem para demonstrar que aquilo é uma merda. Tu sabes que não é, porque tu és um especialista sobre aquilo de que gostas. Mas os outros não percebem que aquele filme fala sobre ti, que são as tuas desventuras que canta o trovador. E que fiel retrato é. Grande artista! A ser tão bom assim deve ter uma musa. Tão boa, a puta.



Dedicatória: Se houve alguém que pensasse que eu ia mesmo escrever sobre os discos e filmes que mais me marcaram na década passada, como prometi há uns posts atrás, este texto é-lhe dedicado. Eu também me senti enganado pois também eu pensei que o ia, mesmo, fazer.

6 comentários:

MONSTA disse...

Sem querer de forma alguma tentar impor as minhas preferências musicais, ler isto enquanto ouço a minimix mashup que os Chromeo fizeram para a Annie Mac foi um momento genial digno de qualquer filme infanto-juvenil dos anos 80 (o Porky's veio-me à cabeça).

Roberto Cerqueira disse...

Vim ao seu "blogue" (aqui desse lado do charco, no Brasil, dizemos blog, pois somos infinitamente mais "estadounidensados"...) por conta de, através do Google, copiar a letra de "Injuriado"...
Um sabor delicioso de Portugal (como em por exemplo "larilas", que entendi como o nosso "maricas")!
Se tiver tempo e vontade "vá à merda do meu blogue" (diarioesporadico.blogspot.com).
E bons escritos!

Inês disse...

és um sacana (sem lei). e tenho umas saudades bem amarrotadinhas ali algures, exactamente no sítio onde sei que as encontro caso queira*

arrssousa. disse...

É por estas e por outras que gosto tanto de ti, seu carais.
Mas és uma besta por não teres justificado o texto. Ai ai que sou tão mesquinha.

Beijinhos Bruno!

espírito disse...

Indeed. Ando a dormir na forma.

arrssousa. disse...

Ai ca lindo, já me justificaste essa beleza!